quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Expedição não há mais como ser perfeita!

Cada um vai construíndo sua expedição individual. Cada membro, dos primeiros aos últimos a integrarem o grupo vão criando suas expectativas que estrapolam as coletivas, de viajar juntos, de escalar o Huayna na mesma cordada, de alcançar as ruínas e fotografar as imagens que vamos ver, de badalar em Cuzco, de pedalar em Arequipa, etc.

Algumas destas expectativas vão sendo desfeitas. Os principais objetivos de alguns podem ser desfeitos e a expedição passa a não ter mais o sentido completo quando algumas destas expectativas são quebradas.

Eu sigo firme no projeto, vou alcançar o topo do 6088 m na Bolívia, vou ver os condores do alto do Cânion Colca, vou remar nas caldulentas águas do rio Colca e cruzar o Titacaca de caiaque. Mas a minha expedição perdeu a graça. Não vou ter mais o olhar da Flávia que eu adoro tanto satisfazer. Não terei mais a minha melhor companhia de viagens.
Não acredito que as outras pessoas da equipe se abalem tanto com este desfalque, afinal, os objetivos são individuais e não faz sentido querer que esta perda seja compartilhada por todos. Ninguém iria mesmo entender as origens desta expedição. Um sonho que nasceu nas minhas primeiras aulas de história na faculdade, foi crescendo nas disciplinas de américa pré-colombiana e virou plano junto com a Flávia. Antes mesmo de haver uma kombi nos planos.
Nossa equipe agora é formada por 5 pessoas, mas Machu Picchu só terá sentido para mim numa próxima oportunidade. Desta vez será só para cumprir roteiro.

Porém uma coisa nesta história toda também é fato: A expedição não é objetivos de todos, e quando não é, não adianta querer todos por perto.

Guilherme G G

Lost in Petrô x Terê - a experiência genuína


Eram 5h da manhã quando alcançamos o Abrigo 4, Guilherme diz com melancolia - A única coisa que eu queria era conhecer gente normal.

Abri os olhos com a sensação que havia fechado 1 minuto antes. Olhei a hora e não pude acreditar. Ainda estava meio embriagada, conseqüência da noitada com o pessoal do trabalho. Tinha 30 minutos para chegar na rodoviária. Não sei como consegui colocar a roupa, acho que morfei igual os Power Rangers. Me atirei na rua e surgiu um táxi. Exatos 23 minutos depois estava no guichê da Única. Olho o celular e leio uma mensagem do Gui dizendo que passou a noite na rodoviária em Juiz de Fora, perdeu o ônibus e chegaria atrasado ao Rio. Legal.

Foi assim que começamos a travessia. Sem dormir direito, mofados de esperas em rodoviárias e três horas depois do planejado. Era nossa estréia e eu estava ansiosa para andar com o Guilherme. A gente que curte montanha sabe que é lá que passamos a conhecer o outro de verdade. A geografia não demora a revelar os temperamentos.
Além de ressaquiada estava meio pilhada, tenho uma nóia com performance e já havia construído na minha cabeça um desempenho que nos fizesse terminar o tirão da Parnaso ao Abrigo 4 antes do anoitecer. Àquela altura, 12h, já sabia que só terminaríamos à noite. Mas nosso pequeno grupo era formado só por amantes das sensações mais que fortes e isso ainda me dava uma ponta de esperança. Partimos.
Os Castelos do Açu surgiram no horizonte 4 horas depois. Feriadão igual trilha engarrafada e muito blá blá blá. O David, atleta de bike pisando pela primeira vez em montanha, vinha performando muito bem. Estávamos satisfeitos com o ritmo e com muita energia. Paramos para comer e trocar de roupa e fazer fotos. Uma hora depois estávamos andando novamente.
No Morro do Marcos começamos a exercitar a tolerância em relação à incerteza. A partir desse ponto a trilha sumiu do GPS. Já estava escurecendo. Guilherme bolou. Ele assumiu a responsabilidade de conduzir a travessia e já era sabido que passaríamos um perrengue. Da Lage da Luva para o Corrimão nos perdemos muito e depois mais e de novo. A previsão dizia chuva para sexta-feira. Para avançar rápido fomos leves, sem barraca e com pouca comida. Ele queria bivacar, mas essa não era uma boa opção pra gente. E eu, no meu fanatismo, queria concluir o que nos propomos a fazer.
Com o breu da noite e a cerração perdemos a orientação pelas montanhas. Isso somado à falha do GPS nos deixava totalmente perdidos. A questão não era mais saber o caminho para sair daquela situação. Foi preciso sentir o caminho de fato. Conquistar um ponto era incrível. Achar uma marquinha vermelha, uma seta, era comemoração de gol em final de copa. Porém, achar uma não era garantia de chegar à próxima. E foi assim, tateando a montanha, que ela foi se descortinando pra gente.
Em alguns momentos fomos contemplados com a Lua Cheia, que surgia brilhante e linda. E enquanto os corpos se orientavam em seu estado natural, biológico, animal. Resistindo além dos seus limites. Eu brindava a vida, a natureza e celebrava tudo que ela tem a nos oferecer. E as energias masculina e feminina somadas levaram ao equilíbrio. A força de um compensava a fraqueza do outro. A fadiga do primeiro convocava a resistência do segundo. E nesse desafio extremo desmistifiquei a presença da mulher num território tradicionalmente masculino. Mostrando que não se vence a montanha com força e sim intuição, emoção e cooperação.
Agüentamos a pressão na mata sem surtos nem desequilíbrios. Tudo passava pelo crivo do humor. Como se vivêssemos para rir de nós mesmos, e das situações, boas ou ruins, que vão se apresentando. Andamos por 17 horas da Parnaso ao Abrigo 4. Chegamos com sono, com frio e com fome. Nessa ordem. O David, aliás, já estava alucinando de sono. Não estava raciocinando nem dizia coisa com coisa. Mas estava feliz. Eu completamente lanhada do mato e querendo mais. Estava realmente muito feliz. E o Gui, desconfiado e analítico da esquisotologia humana, concluiu que estava acompanhado de gente muito estranha. Fanáticos andarilhos com um estranho prazer pelo incerto, o sofrimento e a dor.
Essa foi, sem dúvida, a melhor experiência na montanha. Obrigada Gui e David. Nunca me diverti tanto. Não vejo a hora que chegue o treino na Serra Fina!

Pics no Flickr > http://www.flickr.com/photos/aventurasnakombi

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A agonia dos dias que antecedem

Quando eu montei o site coloquei uma função em javascript que conta o tempo que falta para a partida. Esta contagem é regressiva e se dá contanto os segundos, minutos e horas que separam o dia 4 de julho do momento atual. A idéia era ter na página inicial do site um relógio semelhante aqueles que contam os dias que antecedem as copas, olimpiadas, etc.

Toda as vezes que alguém acessa o site o relógio diz para ele: - olha, faltam tantos dias para a expedição dos garotos. Está muito perto, logo logo eles estarão embarcando de Kombi - vejam só que loucura - embarcando de Kombi rumo à Machu Picchu.

Só que agora o relógio entrou num numeral assustador. Olho para ele e me lembro da quantidade de coisas ainda não vistas, das coisas ainda mal vistas e ainda daquelas vistas, mas que parecem ainda mal resolvidas.

A Kombi ainda não está com o motor ajustado, o bagageiro para levar as bikes ainda não está comprado, não mensurei o tamanho dos organizadores plásticos, não fizemos ainda um monte de coisas que precisam ser vistas logo.

Hoje eu estava assistindo o jornal de esportes quando o apresentador anunciou que faltam 51 dias para a Copa do Mundo... Este notícia me fez gelar a espinha dorçal pois me fez lembrar que quando os times estiverem entrando na fase final da competição, nós da kombi estaremos pegando estrada.

Estes dias que antecedem a expedição são extremamente estafantes. Não há nada mais que povoe minhas preocupações.

sábado, 17 de abril de 2010


Uma história fantástica

O pai é um mineiro de 55 anos, daqueles que escuta muito e fala pouco. Do tipo que diz com o olhar. Conselheiro tutelar. Já viu muita coisa feia sobre a natureza humana. Ama a estrada, longa e interminável. Cultua a liberdade e o prazer pelas viagens. Impossível o filho não herdar essa característica. Ele sempre teve muito em comum com seu pai. Os dois têm um monte de cumplicidades bacanas.

O filho já enxerga a vida pela sua própria ótica, recém-chegado aos 30 anos. Com a maturidade das “crianças” vieram também os agregados e os netos. A família cresceu. E para alinhar a paixão pelo movimento e a manter todo mundo unido, compraram a Kombi. E ela se tornou tão especial que virou mais uma integrante, um badulaque.

Curiosamente, foi através dela que se firmou uma das maiores conexões entre os dois, o montanhismo. A Kombi leva todo mundo! Família, amigos e agregados. Mas dirigi-la... Bom, melhor não tocar nesse assunto porque o pai já logo fica com ciúmes.

Eles se divertem juntos em outras coisas. Analisando mapas, traçando roteiros e escolhendo equipamentos para aventuras em montanhas imponentes, cânions ou estradas surreais. Não importa o quão selvagens e inóspitas forem as paisagens, ambos carregam a certeza de que na Kombi eles chegarão lá. Na garagem, ficam ao longo de várias horas, até mesmo vários dias, turbinando o “pão de forma” para os desafios que terá que encarar. O hobby ficou tão sério que o filho, que trabalha com web, criou o site www.aventurasnakombi.com.br.

Esse pai simplesmente viveu a vida do jeito que ele sabia. Em detrimento do sustento da família não tinha meios para realizar movimentos enormes. Um dia, teve uma luz: decidiu que estava na hora de realizar seu grande sonho. E deu uma aula de desapego, de foco na auto-realização. Decidiu jogar tudo pra cima. Largar o emprego e fazer a coisa certa. Investir nele. Viver a sua grande experiência engrandecedora.

Uma atitude que considero de uma inteligência e de uma intuição sem igual. Uma das melhores sacadas sobre a vida que ele poderia deixar para os filhos e netos. Isso me impressionou muito. Ele teve a coragem de tomar uma decisão difícil, que o tira da zona de conforto sem garantir se chegará à próxima. Mas ele confia no próprio taco. E por isso vai viver em um mês o que muitas pessoas levam uma vida inteira para fazer, se isso.

Nasceu assim a aventura “Machu Picchu de Kombi”. Enquanto todos o chamavam de louco, o filho apoiou fortemente a decisão. [A esposa só veio a construir essa idéia bem depois]. E ele, o filho, como a pessoa que mais tinha condições de entender o que tudo aquilo significava foi o primeiro a ser convocado a participar da expedição.

Há dois anos os dois se dedicam a esse planejamento. Eu entrei no barco, quer dizer, na Kombi, há poucos meses. Foi quando conheci o Guilherme [o filho] num trekking no Pico da Bandeira e ele generosamente me convidou para essa grande aventura. Falta pouco para ela se realizar e o Geraldo [o pai] carrega uma felicidade no olhar que é impagável, que nem os encarreirados mais bem sucedidos poderão jamais trazer.

Ele enfrenta o mundo para realizar seus sonhos, sem hesitação, sem reclamação e sem medo. Ele está prestes a escrever uma história da qual vai se orgulhar – e vai ser lembrado. Eu admiro muito tudo isso. Porque é difícil pacas de fazer.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Você tem coragem?


Estava de volta ao Rio de Janeiro, “descongelando”, depois de passar bastante frio no trekking ao Pico da Bandeira. Foi quando o Guilherme me propôs de embarcar na aventura à Machu Picchu. Num impulso emocional, aceitei. E é por isso que estou inaugurando aqui no blog, graças ao convite generosíssimo dele.

O fato é que eu estava no meio de uma crise de autoconhecimento, dessas que chegam para todo mundo e nos impõe reflexões para seguir adiante. Enxerguei nessa oportunidade uma

ótima ginástica para a minha musculatura interior, a tal que nos ajuda a encarar os desafios da vida.

Com a notícia dada aos amigos começaram questionamentos: Mas você vai ter coragem? Não tem medo? Não é uma loucura? E o trabalho? Os compromissos?

Foi então que percebi que coragem nada tem haver com ausência de medo. E muito menos é um impulso irracional. Coragem é um julgamento consciente que envolve capacidade de avaliação, equilíbrio e responsabilidade. E nesse sentido todos nós somos corajosos.

Entendi assim, que coragem tem a ver com ousadia, determinação e conhecimento e há um tanto de sabedoria nesse processo. Que ser corajoso ou forte é estar centrado, preparado emocionalmente, bem fincado dentro de si.

Acho que o que reuniu e motiva os parceiros dessa expedição, é uma tendência a se atirar na vida, é a vocação para experimentar o novo, o desconhecido. Pra essa turma o gosto de sentir novas experiências é mais forte que o medo.

Fiz essa pequena confissão para vocês perceberem o sentimento com que entrei nessa aventura. Com garra, vontade e entusiasmo.


Nos últimos meses e, se tudo der certo, nos próximos, Machu Picchu de Kombi é o meu plano de manejo. E esta pequena confissão estará longe de ser a primeira que você lê aqui.


Volto com notícias do nosso planejamento - logístico, financeiro, físico e emocional!


Boa semana,

Rachel

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

PÉ NA ESTRADA


Quando conheci o Gui, no Pico da Bandeira, estava num daqueles momentos da vida em que você abandona algumas certezas e encontra outras, em que você quer tudo novo de novo! Num daqueles momentos de busca por novos desafios, novas experiências...

Talvez ele também estivesse num desses momentos... Digo isso porque nossa afinidade foi tão imediata, que o convite para participar da expedição surgiu antes mesmo de nos conhecermos direito. Euzinha, claro, topei na hora!!! Estava ali a oportunidade de buscar o novo que eu tanto queria além das fronteiras em eu já vinha procurando...

Machu Picchu já era um sonho antigo. Viajar, já estava se tornando um estilo de vida. Esportes de aventura, uma paixão. Contato com a natureza, uma necessidade. E a busca pela harmonia espiritual, meu maior desafio.

Vi então, naquela proposta maluca, a oportunidade de fazer tudo o que eu queria, do jeito que mais gosto de viver: com o pé na estrada, a cabeça nas nuvens, minha mochila nas costas e o peito aberto pra novos desafios.

Machu Picchu de Kombi!!! Dá pra acreditar???

De volta à vida real, resolvemos marcar uma cerveja, “pra mó de”, só então, nos conhecermos um pouco mais. Tomamos algumas, falamos muito sobre tudo, sobre a vida dele, sobre a minha, nossas experiências e expectativas, menos sobre a expedição. Isso já era um fato, já estava definido. Mas saí dali com a sensação de que ele daria um bom chefe de equipe (hoje carinhosamente chamado de pangaré-chefe). E principalmente com a sensação de que tinha acabado de ganhar um novo amigo.

O Gui, aliás, tem uma teoria de que amizades que começam na montanha são eternas... Penso que ele tem razão, porque foi mais ou menos assim quando conheci a Rachel, a outra maluca que compõe a nossa equipe, e que imediatamente se tornou minha mais nova amiga de infância! Mas isso é uma outra história... Por ora, só queria mesmo explicar como vim parar aqui.

Roberta Natália

sábado, 12 de setembro de 2009

Duas novas integrantes na Expedição Machu Picchu de Kombi



Rachel e Roberta são as novas aventureiras da Expedição Machu Picchu de Kombi.
Conhecemos as duas no Trekking ao Pico da Bandeira.
Rachel do Rio de Janeiro-RJ e Roberta de Ubá-MG deram um novo ânimo à expedição por estarem contribuíndo muito com a fase de planejamento.

Finalmente agora Guilherme terá alguém para fazer a sua segurança na investida ao cume de Huayna Potosi não precisando mais fazer a escalada em solo. Roberta que já é escaladora irá fazer um curso de escalada em rocha com Hilo Santana na cidade do Rio de Janeiro onde aprenderá os procedimentos de segurança em parede.

Rachel como publicitária está muito empenhada na fase de planejamento e está buscando contatos com os meios de comunicação esportivos para garatirmos a divulgação da expedição.

É isso ai garotas, sejam bem vindas e rumo ao topo.