sábado, 17 de abril de 2010


Uma história fantástica

O pai é um mineiro de 55 anos, daqueles que escuta muito e fala pouco. Do tipo que diz com o olhar. Conselheiro tutelar. Já viu muita coisa feia sobre a natureza humana. Ama a estrada, longa e interminável. Cultua a liberdade e o prazer pelas viagens. Impossível o filho não herdar essa característica. Ele sempre teve muito em comum com seu pai. Os dois têm um monte de cumplicidades bacanas.

O filho já enxerga a vida pela sua própria ótica, recém-chegado aos 30 anos. Com a maturidade das “crianças” vieram também os agregados e os netos. A família cresceu. E para alinhar a paixão pelo movimento e a manter todo mundo unido, compraram a Kombi. E ela se tornou tão especial que virou mais uma integrante, um badulaque.

Curiosamente, foi através dela que se firmou uma das maiores conexões entre os dois, o montanhismo. A Kombi leva todo mundo! Família, amigos e agregados. Mas dirigi-la... Bom, melhor não tocar nesse assunto porque o pai já logo fica com ciúmes.

Eles se divertem juntos em outras coisas. Analisando mapas, traçando roteiros e escolhendo equipamentos para aventuras em montanhas imponentes, cânions ou estradas surreais. Não importa o quão selvagens e inóspitas forem as paisagens, ambos carregam a certeza de que na Kombi eles chegarão lá. Na garagem, ficam ao longo de várias horas, até mesmo vários dias, turbinando o “pão de forma” para os desafios que terá que encarar. O hobby ficou tão sério que o filho, que trabalha com web, criou o site www.aventurasnakombi.com.br.

Esse pai simplesmente viveu a vida do jeito que ele sabia. Em detrimento do sustento da família não tinha meios para realizar movimentos enormes. Um dia, teve uma luz: decidiu que estava na hora de realizar seu grande sonho. E deu uma aula de desapego, de foco na auto-realização. Decidiu jogar tudo pra cima. Largar o emprego e fazer a coisa certa. Investir nele. Viver a sua grande experiência engrandecedora.

Uma atitude que considero de uma inteligência e de uma intuição sem igual. Uma das melhores sacadas sobre a vida que ele poderia deixar para os filhos e netos. Isso me impressionou muito. Ele teve a coragem de tomar uma decisão difícil, que o tira da zona de conforto sem garantir se chegará à próxima. Mas ele confia no próprio taco. E por isso vai viver em um mês o que muitas pessoas levam uma vida inteira para fazer, se isso.

Nasceu assim a aventura “Machu Picchu de Kombi”. Enquanto todos o chamavam de louco, o filho apoiou fortemente a decisão. [A esposa só veio a construir essa idéia bem depois]. E ele, o filho, como a pessoa que mais tinha condições de entender o que tudo aquilo significava foi o primeiro a ser convocado a participar da expedição.

Há dois anos os dois se dedicam a esse planejamento. Eu entrei no barco, quer dizer, na Kombi, há poucos meses. Foi quando conheci o Guilherme [o filho] num trekking no Pico da Bandeira e ele generosamente me convidou para essa grande aventura. Falta pouco para ela se realizar e o Geraldo [o pai] carrega uma felicidade no olhar que é impagável, que nem os encarreirados mais bem sucedidos poderão jamais trazer.

Ele enfrenta o mundo para realizar seus sonhos, sem hesitação, sem reclamação e sem medo. Ele está prestes a escrever uma história da qual vai se orgulhar – e vai ser lembrado. Eu admiro muito tudo isso. Porque é difícil pacas de fazer.

2 comentários:

  1. Tenho certeza que será uma aventura maravilhosa! Vou ficar de olho!

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  2. Parabéns pela sensibilidade como descreveu o "motorista da kombi", meu querido e amado irmão. Realmente é isso mesmo fala pouco e ouve muito.Essa linguagem pelo olhar vem desde a época de nossos pais, e aos poucos os que convivem com ele acabam aprendendo esse meio de comunicar. rsrsr, é divertido,não?
    Ele soube ter paciência de dar tempo ao tempo para aflorar e colocar em prática seu espirito aventureiro, porém cauteloso, visto que , planeja de forma segura cada passo da aventura desejada.Admiro nele a capacidade de dar ao outro a oportunidade de construir a autonomia, talvez seja de forma instintiva, talvez por preferir "ficar na dele", mas o certo que é realiza tal construção.Será ele o "Paulo Freire" no segmento aventura?
    Quanto ao meu sobrinho , Guilherme, também é um ótimo companheiro de viagem. Estresse com ele? Acho que nem sabe o que é isso!Só estressa quando não o seguimos em suas aventuras(rsrsr), mas logo entende e com-partilha sua felicidade com quem não pode ir.
    Parabéns pela coragem de aventurar pelas estradas na Companhia mais ilustre.....A KOMBI e seu eterno "Motorista" !(kkkk)

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