quinta-feira, 22 de abril de 2010

Lost in Petrô x Terê - a experiência genuína


Eram 5h da manhã quando alcançamos o Abrigo 4, Guilherme diz com melancolia - A única coisa que eu queria era conhecer gente normal.

Abri os olhos com a sensação que havia fechado 1 minuto antes. Olhei a hora e não pude acreditar. Ainda estava meio embriagada, conseqüência da noitada com o pessoal do trabalho. Tinha 30 minutos para chegar na rodoviária. Não sei como consegui colocar a roupa, acho que morfei igual os Power Rangers. Me atirei na rua e surgiu um táxi. Exatos 23 minutos depois estava no guichê da Única. Olho o celular e leio uma mensagem do Gui dizendo que passou a noite na rodoviária em Juiz de Fora, perdeu o ônibus e chegaria atrasado ao Rio. Legal.

Foi assim que começamos a travessia. Sem dormir direito, mofados de esperas em rodoviárias e três horas depois do planejado. Era nossa estréia e eu estava ansiosa para andar com o Guilherme. A gente que curte montanha sabe que é lá que passamos a conhecer o outro de verdade. A geografia não demora a revelar os temperamentos.
Além de ressaquiada estava meio pilhada, tenho uma nóia com performance e já havia construído na minha cabeça um desempenho que nos fizesse terminar o tirão da Parnaso ao Abrigo 4 antes do anoitecer. Àquela altura, 12h, já sabia que só terminaríamos à noite. Mas nosso pequeno grupo era formado só por amantes das sensações mais que fortes e isso ainda me dava uma ponta de esperança. Partimos.
Os Castelos do Açu surgiram no horizonte 4 horas depois. Feriadão igual trilha engarrafada e muito blá blá blá. O David, atleta de bike pisando pela primeira vez em montanha, vinha performando muito bem. Estávamos satisfeitos com o ritmo e com muita energia. Paramos para comer e trocar de roupa e fazer fotos. Uma hora depois estávamos andando novamente.
No Morro do Marcos começamos a exercitar a tolerância em relação à incerteza. A partir desse ponto a trilha sumiu do GPS. Já estava escurecendo. Guilherme bolou. Ele assumiu a responsabilidade de conduzir a travessia e já era sabido que passaríamos um perrengue. Da Lage da Luva para o Corrimão nos perdemos muito e depois mais e de novo. A previsão dizia chuva para sexta-feira. Para avançar rápido fomos leves, sem barraca e com pouca comida. Ele queria bivacar, mas essa não era uma boa opção pra gente. E eu, no meu fanatismo, queria concluir o que nos propomos a fazer.
Com o breu da noite e a cerração perdemos a orientação pelas montanhas. Isso somado à falha do GPS nos deixava totalmente perdidos. A questão não era mais saber o caminho para sair daquela situação. Foi preciso sentir o caminho de fato. Conquistar um ponto era incrível. Achar uma marquinha vermelha, uma seta, era comemoração de gol em final de copa. Porém, achar uma não era garantia de chegar à próxima. E foi assim, tateando a montanha, que ela foi se descortinando pra gente.
Em alguns momentos fomos contemplados com a Lua Cheia, que surgia brilhante e linda. E enquanto os corpos se orientavam em seu estado natural, biológico, animal. Resistindo além dos seus limites. Eu brindava a vida, a natureza e celebrava tudo que ela tem a nos oferecer. E as energias masculina e feminina somadas levaram ao equilíbrio. A força de um compensava a fraqueza do outro. A fadiga do primeiro convocava a resistência do segundo. E nesse desafio extremo desmistifiquei a presença da mulher num território tradicionalmente masculino. Mostrando que não se vence a montanha com força e sim intuição, emoção e cooperação.
Agüentamos a pressão na mata sem surtos nem desequilíbrios. Tudo passava pelo crivo do humor. Como se vivêssemos para rir de nós mesmos, e das situações, boas ou ruins, que vão se apresentando. Andamos por 17 horas da Parnaso ao Abrigo 4. Chegamos com sono, com frio e com fome. Nessa ordem. O David, aliás, já estava alucinando de sono. Não estava raciocinando nem dizia coisa com coisa. Mas estava feliz. Eu completamente lanhada do mato e querendo mais. Estava realmente muito feliz. E o Gui, desconfiado e analítico da esquisotologia humana, concluiu que estava acompanhado de gente muito estranha. Fanáticos andarilhos com um estranho prazer pelo incerto, o sofrimento e a dor.
Essa foi, sem dúvida, a melhor experiência na montanha. Obrigada Gui e David. Nunca me diverti tanto. Não vejo a hora que chegue o treino na Serra Fina!

Pics no Flickr > http://www.flickr.com/photos/aventurasnakombi

2 comentários:

  1. Caramba, so hoje que eu estou vendo essa postagem.
    E ai, quando sera a proxima?

    Adorei a comparação com o gol da final da copa do mundo e as setas vermelhas. =)

    Eu que agradeço a paciencia e convite para a trilha. Saudade de vocês. E enquanto o Guilherme quer conhecer gente normal eu to ansiando por gente louca ..rs

    Só um detalhe, a gnt chegou foi as 05:00 da manha...rs

    beijos

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